Disfunções Temporomandibulares E O Uso Do RDC/TMD

As disfunções temporomandibulares (DTM) podem ser definidas como um conjunto de condições dolorosas e/ou disfuncionais, que envolvem os músculos da mastigação e/ou as articulações temporomandibulares (ATM)1. Estas condições não possuem etiologia ou justificativa biológica comum e, desta forma, caracterizam um grupo heterogêneo de problemas de saúde2.

De acordo com a Academia Americana de Dor Orofacial, DTM é definida como um termo coletivo que engloba um grande número de problemas clínicos, os quais afetam os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas3. Sinais e sintomas comuns da DTM são os ruídos na ATM, a limitada capacidade de abertura da articulação, os desvios nos padrões de movimentos da mandíbula e dos músculos mastigatórios e/ou dor orofacial4.

As disfunções dos músculos da mastigação são a causa principal de origem de dor não dentária na região orofacial. A dor descrita como dor facial, cefaleia ou dor de ouvido, comumente exacerbada pela função da mandíbula, é, em geral, a principal queixa do paciente e a causa mais comum para buscar tratamento5,6.

As DTMs são frequentemente acompanhadas por dores de cabeça recorrentes e dores em região cervical, apresentando incidência tão acentuada e grande quantidade de sinais e sintomas associados, tais como espasmo muscular, dor reflexa, dificuldade de movimentação articular, crepitação, cefaleia e distúrbios auditivos7.

Dentre os tratamentos fisioterapêutico indicados para DTM, destacam-se: exercícios, massagem, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), ultrassom e laser5,8,9,10. O tratamento das Disfunções Temporomandibulares (DTM) objetiva ser conservador e reversível para alívio da dor e restauração da função normal5.

Um fator etiológico é necessário se a patologia em questão nunca puder acontecer na ausência deste fator. Já um fator etiológico é considerado suficiente quando sua presença sempre levar ao surgimento de determinada patologia. Os fatores etiológicos para desordens dolorosas crônicas como, por exemplo, as DTM, usualmente não podem ser considerados isoladamente necessários ou suficientes, e sim como parte de um conjunto suficiente de causas11.

Estudos sobre a influência das parafunções na dor orofacial são ainda limitados, porém indicam que o início das DTMs dolorosas possivelmente esteja relacionado ao acúmulo de carga proveniente de hábitos parafuncionais sobre as estruturas do sistema estomatognático. Pesquisas têm sido desenvolvidas no intuito de estabelecer a relação entre parafunções orais e o início ou agravamento de dores orofaciais, mais especificamente da dor muscular mastigatória e artralgia temporomandibular, acompanhada ou não de alterações degenerativas12,13. Segundo MacFarlane et al.14 as parafunções diurna e do sono foram significativamente associadas à dor orofacial, como à dor articular e à dor durante a mastigação.

Depositou-se nas más oclusões um papel prioritário no desenvolvimento das DTM’s. Estes conceitos foram sedimentados pelo sucesso relativo das terapias oclusais, sejam estas reversíveis ou irreversíveis. Contudo, a relação entre estas variáveis necessita de confirmação científica15.

O RDC/TMD é um instrumento de avaliação, desenvolvido por um grupo de pesquisadores clínicos e epidemiológicos, com o objetivo de criar um conjunto de critérios de diagnóstico para classificar e tratar os indivíduos com DTM. É destinado à pesquisa e permite uma avaliação multidimensional da dor crônica advinda da DTM, incluindo variáveis clínicas, bem como fatores socioeconômicos que podem influenciar o resultado do tratamento (nível educacional, renda, idade, impacto da dor crônica, etc.). Ele se baseia no fato de que não somente fatores clínicos, como também fatores de ordem sistêmica e psicossocial em pacientes com desordens temporomandibulares podem ser utilizados como fatores prognósticos16,17.

O RDC/TMD é composto por um sistema duplo de eixos de diagnóstico e de classificação destinado para a pesquisa clínica da DTM, que inclui não só métodos para classificação física dos diagnósticos de DTM (apresentados em seu Eixo I), mas também métodos para avaliar a intensidade e severidade da dor crônica e os níveis de sintomas depressivos e físicos não-específicos (apresentados em seu Eixo II)18.

O Eixo I do RDC/TMD se refere às condições físicas apresentadas na DTM e tem por objetivo estabelecer critérios diagnósticos padronizados para serem usados em pesquisas científicas18.

A principal implicação na adoção do RDC/TMD nos serviços de atendimento em Oclusão e DTM é o fato deste índice determinar se a condição de DTM do paciente é predominantemente muscular, articular inflamatória ou articular degenerativa. Além de nos determinar com clareza os componentes do sistema Estomatognáticos mais afetados em cada caso e podermos traçar leituras para pesquisa e caminhos durante o tratameto clínico.

No Brasil, o questionário RDC/TMD: Eixo II foi traduzido para a língua portuguesa por Pereira et al., passou por um processo de adaptação cultural e validação de face por Kosminsky et al., e em seguida foi realizada a validação convergente e discriminante por Lucena et al., sendo considerado reprodutível e válido, viabilizando seu emprego em pesquisas na população brasileira16.

O índice RDC/TMD para o estudo das desordens têmporo mandibulares fornece ao profissional da odontologia o conjunto de dados necessários para diagnóstico dos componentes do aparelho estomatognático envolvidos na condição da DTM, e principalmente, suporta dados necessários a pesquisas sobre o assunto com validação clínica e científica internacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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15 – Tesch RS, Ursi WJS, Denardin OVP. Bases epidemiológicas para análise das más oclusões morfológicas como fatores de risco no desenvolvimento das desordens temporomandibulares de origem articular. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 41 Maringá, 9(5), p. 41-48, set./out. 2004.
16 – Cavalcanti RF, Studart LM, Kosminsky M, Góes PSA. Desenvolvimento da versão multimídia do questionário “Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular disorders: Axis II (RDC/TMD)” em português. Rev. odonto ciênc. 2008;23(4):388-391.
17 – Grossi DB, Chaves TC. Physiotherapeutic treatment for temporomandibular disorders (TMD). Brazilian Journal of Oral Science. 2004;3(10):492-7.
18 – Maydana AV, Tesch RS, Demardin OVP, Ursi WJS, Dworkin SF. Possíveis fatores etiológicos para desordens temporomandibulares de origem articular com implicações para diagnóstico e tratamento. Dental Press J Orthod 2010 May-June;15(3):78-86.

Fonte: ARTIGO POR THIAGO FERNANDO DE ARAÚJO SILVA – SEXTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2013

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